Nos últimos meses, temos visto um debate público intenso sobre a regulação de plataformas digitais no Brasil por meio do Projeto de Lei 2630/20, o . De gigantes como Google e Meta a profissionais desenvolvedores, de políticos a pesquisadores acadêmicos e ONGs, todo mundo parece ter uma opinião sobre como as redes sociais e a disseminação de informação digital devem ser reguladas no Brasil. Mas e o povo?

O que a sociedade civil, usuários e pessoas que não tem acesso ao Congresso, ou ainda coletivos e organizações de tecnologia e de comunicação querem para o futuro da Internet? Como incluir visões múltiplas no projeto de lei?

Essa é uma pergunta que o CGI (Comitê Gestor de Internet, criado em 1995 por iniciativa mista do Ministério de Comunicações e MCTI) se fez e que tentou responder utilizando a plataforma Empurrando Juntas (EJ), desenvolvida pela Pencillabs e pelo Instituto Cidade Democrática. A EJ permite realizar pesquisas de opinião em plataformas como Telegram, WhatsApp, listas de email e sites institucionais.

Nesse post explico um pouco:

• Como utilizamos a EJ para capturar a opinião pública sobre os temas centrais do PL de Regulação das Redes.
• Como fazemos para que as pessoas criem soluções, e não somente respondam perguntas.
• Como o uso de clusters nos ajuda a entender como o público se organiza em relação ao tema de regulação.

O que é: coleta e medição de opinião

De forma sucinta, a EJ (Empurrando Juntas) coleta e mede a opinião popular sobre determinado assunto por meio de conversas. Uma conversa é composta por um tema central e um conjunto de comentários, que representam pontos de vista sobre o tema. O participante pode concordar, discordar ou pular um determinado comentário. O participante também pode dar a sua opinião, adicionando novos comentários à conversa.

A Pencil é responsável pela sustentação, desenvolvimento e manutenção da plataforma. A EJ já foi utilizada pela Transparência Internacional - Brasil, prefeituras do estado de São Paulo e pelo projeto Boca de Lobo. Com a elaboração do #PLdasFakeNews, o CGI decidiu adotar a EJ para consolidar uma visão multissetorial sobre a regulação das plataformas digitais no Brasil. No site do projeto é possível acompanhar como isso foi feito. Apresentarei como conseguimos alcançar dois resultados principais: medir a opinião popular e auxiliar a discussão pública sobre o tema.

Escuta multicanal

A escuta da EJ é multicanal. É possível realizar pesquisas em páginas web, listas de e-mail e aplicativos como Telegram e WhatsApp. As participações são enviadas para um dashboard, que unifica a votação e permite extrair inteligência dos dados. Na consulta do CGI, as pessoas puderam participar pelo site e pelo Telegram. O administrador cria uma conversa na plataforma e, por meio das nossas ferramentas de integração, realiza a coleta nos diferentes canais.

Participação publica entrou no chat

Ao criar uma conversa, o administrador pode adicionar um conjunto de comentários iniciais. Estes comentários irão auxiliar na formação dos grupos de opinião. A construção dos grupos vai depender da forma como os participantes votam nos comentários da conversa. Mas uma boa conversa na EJ é formada, principalmente, pelos comentários que os participantes registram. São estes comentários que trarão uma visão diversa para o tema e permitirão extrair novos assuntos a partir do que as pessoas estão discutindo.

Clusters, nem 8 nem 80

Para medir opiniões, a EJ agrupa os participantes em clusters (grupos). Para calcular se um participante está no grupo A ou B, o administrador da conversa modela quais os perfis de participação ele imagina que existem no público. No contexto da EJ, esses perfis são chamados de “personas”. Modelar uma persona é definir como determinado perfil irá votar nos comentários da conversa. Conforme o público vota, a EJ calcula a proximidade dos votos reais com a modelagem, gerando assim os grupos de opinião. Para o CGI, modelamos três personas: “pró regulação pró plataformas”, “contra mudanças” e “pró regulação pró estado”.

Definir personas é um trabalho contínuo e sensível. Conforme a base de dados cresce, o nosso algoritmo de clusterização pode descobrir personas que não tinham sido identificadas antes. Isso permite que o administrador avalie se suas suposições estavam corretas e "recalibre" a modelagem para um agrupamento mais realista. Ainda estamos finalizando a análise dos grupos e performance dos comentários. Estes resultados serão apresentados ao CGI e poderão servir de insumo para melhorias no texto do projeto de lei. Em breve, discutirei sobre os resultados por aqui.

A EJ segue em constante desenvolvimento e, nesse momento, estamos focados em duas frentes de trabalho. A primeira busca ajudar os criadores a engajar os participantes em ações pós-coleta. Isso permitirá que a EJ viabilize estratégias de Advocacy por meio dos grupos de opinião. A segunda é focada na página do participante, permitindo que ele acesse assuntos de interesse e tenha mais controle sobre seus dados (estamos atentos à LGPD). Queremos melhorar a experiencia de quem participa 😊!

Quer saber mais sobre a plataforma? acesse o nosso artigo que explica a metodologia que desenvolvemos para realizar pesquisas de opinião multicanal.